16/10/2014

Aos dezoito



* Foto: Manhã na praia

Escrevo porque não sei dançar.
Mamãe me disse que é preciso
arrumar emprego & namorada
— e nunca foi tão difícil
fazer a barba sem cortar
os pulsos.

               Quando nasci, confesso
               : não veio anjo algum.
               Desde então os invento...
               Contra o tédio desde 1996.

Paro ainda mais uma vez à porta da tabacaria
onde a cruz estrangeira guarda a morte.
Não tenho aonde ir. É tarde
e amigo algum me abriria a porta.

               Meus amigos são fabulosos!
               A alguns escrevo cartas
               que demoram a chegar,
               ou se extraviam. A outros
               contos eróticos
               que nunca lerão.

Ainda ontem lia um poema perigoso
num clube patético,
e me chamavam O Inflamável,
e bebiam em meu nome
— eis minha glória!

Ontem também encontrado morto
(nove facadas, o pescoço
cortado) um selvagem qualquer
aqui da Rua Pau Brasil. Virgens
em pânico!

Eu queria pra mim o pudor dos comedidos
e seus movimentos precisos e simulados.
Mas dividiram meu peito em castas
e povoaram... Estou exposto & estúpido.

Que triste revisar as coisas
de ontem, agendar as coisas
de amanhã. Por ora: (1) alimentar
o cão, (2) trancar as portas, (3)
dormir... O céu é logo depois
do abysmo…

A. F.