deve ser escrito
com os pés no mar.
Não deve ter nada do sangue
dos meninos degolados
em Belém. Nem da fúria
da curiosa chuva
que acabou com a festa.
O primeiro poema do ano
não pode ser como o tiro
que acertou meu pai,
nem como o beijo
que afogou H.
neste mar que agora
tem os meus dois pés.
O primeiro poema do ano
melhor seria nem escrevê-lo,
melhor seria poupá-lo
para sempre...
onde premeditam-se
todas as mortes. Por isso,
quando encontrarem os corpos na areia
brancos e solitários como a noite,
não culpem o garoto, não culpem...
O primeiro poema do ano
deve ser o último.
A. F.