28/12/2012

Esses ridículos poemas pueris

Não é por ninguém
que eu continuo escrevendo
esses ridículos poemas pueris.

Acontece que o verbo (um
verbo de luz) está
cá dentro, vivo
ou morto está cá dentro
e não quer sair...
E isso me irrita, sabe...
Isso me irrita tanto...

Mas há esperança (es-
pe-ran-ça: uma palavra chata)
por isso escrevo.

E é só por isso, eu juro.

A. F.

12/12/2012

Conversa íntima





— O que é você? pergunta
a bruxa ao descobrir
o segredo de si.

O segredo revela:

 Eu sou a flor sedenta
que brota dos teus meios,
e tudo, antes do pó
acabará em mim.


A. F.

14/11/2012

Quando as portas fecham

Quando as portas fecham
e não há aurora
fico como tonto

ando feito louco

pelo bar dos dias
vai-se o copo, as
horas...

e não há aurora.


 Aurora,

como te quero agora! Aurora
da minha vida... Carne
em minha labareda...

Mas aurora não quer nem saber

e me deixa na porta e me deixa na mão
feito cão sem casa
a desovar auroras
pelo mar das pias...

A. F.


~ Poema selecionado no "Prêmio Cultural Poesias de Amor"
para compor a antologia "O Livro do Amor" (AAL — 2012).

08/10/2012

Oco

Não sei se o que falo é o eco
ou se é o eco
que fala em mim










Publicado na revista Um conto
(edição 14) ~ Novembro de 2012

20/09/2012

Anunciação

De dentro de mim
brotam crianças
natimortas

Já é primavera
na maioria
das casas










Publicado na revista Um conto
(edição 14) ~ Novembro de 2012

06/09/2012

Não quero-quero

Não quero-quero ter de dona a poesia
tampouco quero-quero dominá-la.

Não quero-quero a escravidão da língua.
Não quero-quero carregar bandeira.
Não quero-quero ser poeta.
Não quero-quero da sina
fazer profissão.

Não quero-
quero.

Só quero-quero ser livre!
Só quero-quero ser solto!
como o doce quero-quero da manhã
que esta manhã não veio...
Desenho de galho, John Ruskin.
[Ruskin´s Drawings, Asmolean Museum Oxford, 1997, p. 39]

05/08/2012

Aparecida faz 67 anos


*Animais diurnos,
2018, acervo pessoal

A hora do bolo
é uma carnificina: os dentes
brancos pretos amarelos
me dilaceram, em festa
 sentirão pena depois?
Junto com o bolo, engulo
o amor o horror e a paz.
Junto com o bolo (de
chocolate meio-amargo)
me divido, me reparto e parto,
e em cada pratinho de plástico
alguém, entredentes, me
devora. O domingo é pálido
mas não deixa de ser um
lindo domingo em família.

A. F.

25/07/2012

Poeminho

Reparei
que todo sabiá
que é de gaiola

pela manhã
antes de tudo

canta a Canção
do exílio.

~ Publicado na antologia "Mil
Poemas Para Gonçalves Dias"

04/04/2012

aquele ser


aquele ser sem gosto
aquele ser sem jeito
aquele ser que dorme
sobre teu nobre leito

aquele ser sem gosto
aquele ser sem cura
aquele ser no encosto
aquela alma escura

aquele ser sem gosto
aquele ser vazio
aquele ser sem rosto
que todo homem viu

aquele ser sem gosto
aquele ser sem nome
aquele ser que come
e não sente o gosto

A. F.


~ Selecionado no Prêmio Valdeck Almeida de Jesus - 2012 e publicado em antologia.
~ Publicado na 36° edição da revista Benfazeja.
~ Selecionado no concurso Poesia Todo Dia e publicado em antologia.

23/02/2012

Flores

Flores, flores...
estranho como fui dormir
e não havia flores...
Agora, elas aqui
parecem brotar do meu corpo...

Estranho dormir vivo
- acordar
subitamente morto...


André Foltran
Publicado no Livro Diário do Escritor 2013.